Saiba mais sobre De carta em carta...

Diário de bordo

Nesta página transcrevo registros feitos no meu Diário de Bordo. Muitas das impressões aqui registradas referem-se ao projeto "De carta em carta...encontrando caminhos", embora os registros não sejam específicos do projeto.

ESCOLA JOSEANE BIANCO
19/02: Fiz o convite para todas as turmas que trabalharão no projeto. Já estão empolgados, parece que consegui motivá-los legalzinho.
À tarde, ao final da aula,uma garota esperou-me e disse: "Dona, a dona conhece a Viviane da APAE? Ela é minha irmã, ela fez 19 anos ontem." Mais uma vez emocionei-me, meu Deus como fica mais fácil para eles quando tocamos nesse assunto!!!

23/02: Muitos conflitos envolvendo xingamentos, porém bem menos que no ano passado. Há muitos alunos que fazem relatos de irmãos que têm deficiências, muitos frequentam a APAE .

26/02: Classe muito pequena, não têm interação. Grupo precisa ser trabalhado para diminuir rivalidades. Atividades mais pautadas em objetivos claros. Chegar ao fim sempre. Evitar atividades que exijam continuidade. Promover atividades em grupos pequenos/duplas, mas que seja necessária a participação de todos.

04/03: 7º D- Já estamos bastante amigos. Aulas de produção com concentração. Murilo e João Paulo melhoraram muito. Leonardo Gabriel está mais participativo nas atividades de produção. Ainda não participa oralmente, mas conclui a maioria das atividades.

04/03: Assistindo ao vídeo da Maria de Fátima Alan disse: “Nossa Dona, eu preferia morrer!”. Agora eu pensando “Meu Deus, ele colocou-se no lugar dela”.

09/03: 8ºC - Preocupação com a conteúdo, estética e o uso da linguagem: “Como eu pergunto qual a deficiência dela?”; “E se ela for surda?Eu perguntei sobre a música favorita dela?” Muitos preocuparam-se em saber qual a deficiência da pessoa * consciência de leitor.

09/03: As coisas andam muito bem.
Hoje escrevemos as primeiras cartas. Notei que uma preocupação deles é saber qual a deficiência do seu novo amigo.Também preocuparam-se muito com a linguagem, como dizer aquilo sem magoar e fazer-se compreendido, bendita consciência de leitor.Também voltam ao texto para revisar. Aqueles que já trabalharam comigo fazem isso com mais facilidade .

Já anotei algumas observações nas escritas deles. Coisas simples como uso do vocativo, alguns aspectos ortográficos. Mas o que vai ser mais urgente é trabalhar a pontuação. Vou fazer algumas reescritas coletivas.
No oitavo ano foi sossegado, foram meus alunos em 2009 e escrevemos muitas cartas. Já o nono ano começarei na quinta. Fiz um dignóstico de escrita na sexta-feira e não consegui praticamente nada. Vamos ver se com as cartas eu consigo extrair algo mais. Já senti que consegui sensibilizá-los com os vÍdeos que assistimos juntos(exemplos de superação). Agora preciso fazer com que eles sintam-se parte do projeto assim como as outras salas.

11/03: Desenvolvendo autonomia intelectual: vou começar a colocá-los mais para pensar e fazê-los a ter consciência disso. Estão muito acostumados a fazer tudo junto com o professor.

13/03: Oi! Ainda na consegui dar feedback nenhum. Não está sobrando tempo. Sei que é importantíssimo, mas não deu. Estou enfatizando muito a leitura e o saber ouvir. No 9º ainda não consigo que me ouçam totalmente, preciso interagir em grupos. 7º ano: todos ouvem, participam e consegui montar minha rotina. 8º ano: as novas meninas ainda não compreenderam nosso esquema de trabalho. Precisamos de tampo. Atenção: preciso começar investir no estudo da língua e nos feedbacks dos textos produzidos.

15/03: 9º ano- Alisson me pede para contar histórias. Já acostumou que eu conto histórias. Diz que é para que eu não passe lição, mas no fundo ele gosta. Me acompanha e quer que eu conte num círculo e ele senta perto de mim. Hoje contei “A pata do macaco”, W.W. Jacobs quando vi muitos estavam me acompanhando. Todos ainda é quase impossível. Outra coisa: passei a usar mais os vídeos. Na avaliação de 2009 notei que esta era uma falha minha. Mas me interessei por filmes e estou investido mais nessa linguagem. 6º ano: dividimos hoje as turmas. Camila, Sara e Ariane apresentaram a história com objetos “A menina dos brincos de ouro”. Que coisa boa!!! Sozinhas planejaram, ensaiaram e apresentaram, show!!!

19/03: Estou aprendendo várias coisas, uma delas é que preciso orientá-los mais em muita coisa, principalmente nos procedimentos. Quando combinamos como algo deve ser feito, aquilo sai bem melhor.

24/03: Sugestão do grupo do 8º C: fazer um teatro com histórias de superação de deficiência ara apresentar na APAE. Começaram a escrever o conto pedido numa aula de produção com uma personagem com deficiência. OBS: posteriormente chegaram à conclusão de que os alunos da APAE não precisam desse tipo de estímulo e o texto selecionado para o teatro foi um lido na aula de Arte.

25/03: Acho que descobri o porquê de querer escrever sobre a deficiência, é uma maneira de solidarizar-se com os deficientes. Tanto aqui como na Ephigênia turmas que começaram o projeto querem escrever histórias em que os personagens superam os desafios. Querem encorajá-los a superar as dificuldades. Preocupação com a linguagem “ dá dó falar deficiente, que palavra põe no lugar?” / Amanda escreve um texto em que Viviane (sua irmã deficiente) é a protagonista.

26/03: Ontem fomos na APAE (9º ano) somente nove alunos. Muitos dos meninos não quiseram ir. Acho que tiveram medo do que encontrariam e de como reagiriam. Foi muito bom. Ficaram um tanto tensos quando chegamos, mas depois soltaram-se e num dado momento Wellington até tirou um braço de ferro com alunos da Marilza e depois até eu fui desafiada. Quando chegamos, Verônica disse “Quando nós vamos de novo?” Gostaram da visita e disseram isso aos colegas./ Hoje na aula de leitura, 7º D, Pâmela me surpreendeu: concentrou-se( foi a primeira vez que fez isso) na leitura de “Um anjo chamado Atchim” e num certo momento chamou-me e disse: “Dona, lê esse pedaço aqui e fala se o cachorro morreu ou não?” Eu vibrei. Além de compreender o que lera até ali, ela percebeu uma falha na compreensão do enredo quando o cachorro apareceu no outro capítulo: “Ele morreu? Mas parece que será um anjo”. Li com ela e constatamos na expressão “já era tarde”. Morreu mesmo. Depois, no final da aula, eu peguei ela falando para aKetylin: “Meu livro é tão legal!. Quando viu que eu escutei sentiu vergonha./ Ah, relendo os registro posso confirmar um avanço: Já consegui dar o 1º feedback. Fizemos a correção e revisão de todas avaliações e comentei a análise das avaliações de leitura e da produção. Também já corrigi os textos do livro falado e eles estão passando a limpo. Outra coisa: as cartas para Rondônia já estão sendo produzidas. Falta a do Luís Felipe.

30/03: Dificuldades com o ponto de vista: “Samuel e Wendel fomos...” “... e Lavínia, minha mãe”, escrito pela própria Lavínia.

07/04: Tive a ideia de trocar cartas entre a 6ª A (Ephigênia) e o 7º D (Joseane). Fiz o convite e adoraram. A Rô (diretora) disse que podemos fazer o encontro aqui na escola. Será divertido e uma chance de trabalhar o gênero do Saresp. / Também estou trabalhando ortografia com o Soletrando e o Bingo. Tem sido muito bom. Estão despertando para o interesse em escrever certo.

12/04: Dificuldades em usar o dicionário . Murilo, Pâmela, André, Victor, Liliane e Gabriela aprenderam hoje.

13/04: Guilherme melhorou muito. Está produzindo tudo que preparo. Estou muito contente, Ketylin também está muito diferente. Por outro lado, Franciele está mais disersa e brincando durante a aula. Jéssica está mais integrada ao grupo, não arruma mais encrenca. Já o Leonardo Gabriel me preocupa. Embora esteja produzindo mais está muito solitário. Preciso fazer algo.

19/04: Estão escrevendo a primeira carta para a Ephigênia, a empolgação é grande.

20/04: Leo, Murilo, André e Vitor divertem-se escrevendo a carta para a Ephigênia. Leonardo ajuda Murilo, como gosta de mandar ele escreve e até diz o que deve ser escrito. O que mais os motiva é falar sobre namoro e beijos. Leonardo escreveu muitas coisas que Murilo não concordou (te amo!), porém só quando interferi foi que ele começou a escrever a própria carta. Os outros fazem a avaliação (de leitura), sozinhos. Leram o texto primeiro e só depois começaram as questões. Essa classe trabalha muito rápido. É preciso criar várias atividades para um mesmo dia, não fazem tão mal feito é que são rápidos mesmo/ Leonardo Gabriel ainda é muito preso ao texto, não consegue ler e buscar a resposta em sua própria interpretação. Só consegue escrever o que vê no texto.

22/04: Descobri mais uma regra que eles desconhecem : o uso do cedilha. Ai, ai, ai.

22/04: 9ºB- Aula de informática. Alisson , muito impaciente, quer terminar logo. William habilidoso e faz leitura rapidinho, logo localiza informações e sabe orientar-se pelo comando que fiz. Roberto Mateus, no seu silêncio, trabalhou muito bem, orientou-se e soube localizar todas informações. Daniele e Andresa, muitas dificuldades, Andresa quer desistir logo. Elias é aplicado mas não acredita que consegue, logo se desestimula, mas com o apoio de William faz rápido.

22/04: Acho que não consegui ensinar o Misail (não alfabetizado) porque sinto muita pena dele. Não sei se é so carinho, mas tem alguma coisa no olhar dele que me encanta, quero ajudá-lo, mas não sei como. Acho que o primeiro passo é não ter pena, vou tentar.

30/04: Pela primeira vez consegui dar uma aula de leitura no 9º B. distribuí livros na lousa e eles já foram pegando, aliás eles distribuíram na lousa para mim. Verônica, Laís e Daniele escolheram, sentaram-se e começaram a ler. Laís leu 27 páginas. Não desgrudou do livro um instante. Alisson pediu que eu lesse “Um amor do outro mundo”. Estamos lendo (agora) ele fica quietinho escutando (saiu para ir ao banheiro). Letícia, Willian e Luís ficaram folheando a apostila e encontraram HQ e leram um pouquinho (to feliz D+).

11/05: Observei que a maioria dos atritos é sobre uma implicância com os outros, não possuem afeto um pelo outro. Preciso descobrir algo que os faça gostar do outro, não quero individualizá-los ou prejudicá-los. Parece que vibram quando o outro se dá mal. Não poupam crueldades.

17/05: Misail está diferente. Fez a carta para a Ephigênia sem mostrar objeções. Está (agora) acompanhando a atividade da lousa e me chamou para perguntar se dava para entender ( o que tinha escrito). Nunca. Nunca ele fez isso.

25/05: 6º C- hoje estamos fazendo a avaliação sobre o filme Spiderwick: fiz a seleção de uma resenha e propus que identificassem opinião e informação, críticas positivas e negativas. Lemos o texto e fomos grifando (conforme indiquei). Depois da leitura expliquei na lousa os procedimentos d atividade. Quando foram desenvolver só expliquei os conceitos e eles identificaram. Está indo muito bem. Mostram que compreenderam a história do filme e localizaram no texto a informação e a opinião./ 7º D: mesma prova com orientações diferentes. Fiz a leitura com eles fazendo algumas observações. Fiz um esquema na lousa de cada questão explicando como ela deveria ser feita. Após isso, deixei que fizessem sozinhos. Está dando certo com exceção de Leonardo Silva e Leonardo Correa que insistem em querer ajuda e ainda alegam que não são orientados. Leonardo Correa está extremamente ousado , quer tudo do seu jeito e sempre acha que vai conseguir as coisas na pressão e chantagem. Sabe usar as palavras para intimidar o outro e coagi-lo a agir segundo sua vontade. Está tentando fazer isso comigo, mas estou resistindo, parece que está dando certo.
(minutos depois)
Deu certo: os Leonardos “se viraram”, estão tentando fazer, o Leonardo Silva veio perguntar-me algo com muita delicade após o meu “esparramos”. Agora viu que estou escrevendo e perguntou o que é? Viu só, tudo tem que ser tentado.

14/06: Agora as coisas estão se acalmando. Já fizemos os encontros. A semana passada foi difícil para mim. Ansiedade e responsabilidade. Hoje estamos começando a fazer as avaliações. 9º e 7º já fizeram. Consegui que fizessem tudo sozinhos, sem apoio. Estou insistindo na autonomia. Vamos ver quando corrigir.
6º ano- começaram a escrever as respostas para Rondônia. Hoje Milena voltou e escreveu um pedaço. Não sei por quanto tempo ela vai freqüentar as aulas. Essa falta de continuidade atrapalha muito.
7ºD- Leonardo G. ainda faz as coisas sozinho. Murilo C. tem dificuldade em integrar-se. Não sei o que acontece, mas os colegas o repelem. Agora ele está ao meu lado e do outro o Gabriel. Tainara é diferente. Ela quer relacionar-se, não quer ficar sozinha, mas ao mesmo tempo vive reclamando dos os outros. Parece que ela quer que a gente a proteja de tudo. Ela tem medo do que ainda nem aconteceu.
9º ano- Nossas preocupações cresceram a apatia está sendo nosso principal inimigo. Será que eles não acreditam que a escola pode oferecer algo para eles a tempo? Parece que o fato de eles estarem de saída contribuí para que nem queiram se apegar à nada daqui. Eles não se comprometem com nada. Os vi estimulados com as atividades de visitas à APAE e aos filmes. Participam das aulas da produção de texto quando conduzo os procedimentos, percebem que conseguem e ficam otimistas, mas ouço muitas queixas de meus colegas. Gostei de como fizeram a prova. Alguns tentaram, mas não importam se vão bem ou não. Alguns (Silvia Letícia, Daniele, Cassiana) desistiram, mesmo.
*Sobre o Misail: conversando com a Lisa (coordenadora), ela pensou e chegou à conclusão de que essa nova postura dele pode ser reflexo do projeto. Ele preocupa-se com o leitor, talvez pense “Será que o meu amigo da carta vai entender o que eu escrevo?” “Será que já escrevo palavras legíveis?” (tanto pela letra quanto pela grafia). Não sei, vamos observar.

18/06: 8ºC- prova do texto “Parecida mas diferente, Zélia Gattai. Estão fazendo do jeito que eu pedi. Em silêncio, orientam-se e buscam suas próprias respostas. Às vezes me admiro quando consigo esse “estado” na classe. É bonito vê-los pensando e tentando. Às vezes, qualquer comentário ou ruído é motivo para desconcentração, mas não aconteceu. É um trabalho de insistência, mas finalmente estão dando valor ao silêncio na hora da concentração. Estamos conseguindo respeitar nossa inteligência. Que bom!

15/06: Willian (9º) encontrou-se comigo no corredor e pediu para refazer o texto de opinião novamente. Que surpresa maravilhosa!

21/06: Na apostila “Para que serve uma notícia?” , ninguém responde. Reforço. Nada. Cito os possíveis: informar/divertir/defender/. Espero. Nada. Reforço sem dar exemplos. Misail! Só Misail: Informar. (!!!)

24/06: Estamos terminando a escrita da segunda carta para Rondônia. Realmente mudou muito. O conteúdo está vem melhor. Levamos quase três semanas para deixar tudo pronto. Como demora!!!

28/06: Últimas aulas de produção do artigo de opinião. Com mais autonomia estão conseguindo expor seu pensamento de maneira organizada, ainda que com poucos elementos argumentativos. Mateus, na primeira escrita, limitou-se a transcrever trechos da coletânea e no texto de hoje, quando vi já havia feito o primeiro parágrafo.

29/06: 8 ºC-Não posso deixar de fora: Bruno e Eric: “Dona,o que é pau de arara?” Discutiam a expressão “mais sujo que um pau de arara”. Quando expliquei, divertiram-se muito comparando com a explicação que Eric deu: “ é um pau duro onde a arara fica sentada”. Engraçado descobrir essas variantes da linguagem e como se divertiram.

09/06: Fim do semestre. Encerrei todas as atividades que planejei para o semestre. Foi um período muito ativo, mas produtivo também. Vivenciei intensamente todas as propostas e, ao avaliar o meu trabalho, fiquei satisfeita com tudo. Agora, energia para a segunda etapa. Que Deus continue derramando suas bênçãos sobre mim, para que eu insista em encontrar os melhores caminhos sempre...